3 de jul. de 2010

127) CINCO MINUTOS DE TRISTEZA

A garotada de nossa seleção canarinha fez o que pôde, mas o destino é cruel. A vida nos apresenta fatos que correspondem ou não às nossas boas expectativas. Quando as atendem, somos felizes. Quando não, a tristeza se apodera de nossa alma e aquele sentimento de perda tira-nos o chão. Resta-nos a melancolia, vai-nos a alegria, vem-nos o desânimo. Quem já perdeu um ente querido sabe muito bem o que isso significa. Nós os brasileiros, pela nossa forma peculiar de entrega apaixonada às coisas que nos agradam, como o futebol, sentimos igual sofrimento sempre que somos derrotados em uma Copa do Mundo.

Não vem ao caso discutir o porquê de Júlio César e Felipe Melo, em um lance banal, terem levado o Brasil a sofrer o gol de empate da Holanda. Os nervos, além de ficarem à flor das peles de nossos jogadores, certamente perderam todo o equilíbrio necessário para a recuperação. Marcamos mal, lançamos mal, chutamos pior ainda e até uma expulsão conseguimos sofrer. O segundo e fatal golpe não tardaria. Perdemos como já havia acontecido em 1950, em 1982, em 1998 e em outros momentos cruciais da história de nosso futebol.

Difícil não perceber no semblante dos mais jovens a dor da tristeza pela derrota da seleção. Nós que já vimos tantas Copas até que resistimos melhor ao baque, mas mesmo assim sofremos também, e muito. Todavia, os jovens ainda não estão calejados o suficiente para sofrerem reveses dessa monta. Por isso sofrem mais intensamente. Pena, pois olhando de forma mais ampla e menos apaixonada, o que parece uma tragédia para algumas pessoas para outras não passa de um fato corriqueiro, de pouca importância, superável. Por que então sofrer? Eu me condicionei a reduzir ao mínimo possível a minha tristeza quando fatos como esses ocorrem. Dei-me, hoje no início desta tarde e após a derrota do Brasil, apenas cinco minutos de tristeza. Passados, como já de fato passaram esses cinco minutos, começo a colocar tudo em seus devidos lugares. O mesmo sugiro aos amigos:

Reforcemos a consciência sobre o que nos ensinou La Fontaine “Nas asas do tempo, a tristeza voa”. Cada minuto que passa, cada noite que dormirmos, cada semana e mês que em disparada ficam para trás, vão nos levando parte da tristeza até que ela já não exista mais. Não é improvável que uma doce esperança possa desaguar em alegrias, assim como não é também improvável que resulte em tristeza. O destino joga dados com nossas vidas. Tanto pode dar uma coisa como outra. Melhor estarmos preparados para os resultados adversos, pois os favoráveis não nos dão nenhum trabalho nem dissabores.

Vejamos, pragmaticamente, então, o que podemos tirar de útil dessa derrota:

(1) De pronto calejemos ainda mais nossas almas pueris ao aprendermos que crescemos também com as derrotas e não somente com vitórias. Talvez, derrotas nos ensinem mais do que vitórias.

(2) Segue de prático que nossos políticos e todos os usurpadores das glórias alheias tendem a baixar seu nível de arrogância e empáfia. Estamos, pelo menos nesse quesito do futebol, isentos de ouvir algo parecido como “nunca antes na história deste País um presidente trabalhou tanto pela glória do futebol brasileiro”. Jogadas popularescas para fins políticos certamente não ocorrerão neste ano de eleições;

(3) Aprendemos também que não é a grosseria neurastênica de um técnico de futebol, assim como em quaisquer outros setores da vida, a condição necessária para se levar um grupo à vitória. Com o técnico que tivemos a seleção perdeu a alegria de jogar como se para vencer precisássemos ser tristes.

Vamos agora assumir o nosso próprio projeto de Copa do Mundo. Em 2014 o Brasil será o palco dos acontecimentos e, certos de que o ocorrido em 1950 não voltará a nos magoar, devemos ter tudo, de novo, para voltarmos a ser felizes.

Já se passaram bem mais do que os cinco minutos que me dei como limite para a tristeza. Agora, paixão à parte, tristeza se esvaindo lentamente e consciência sobre o pragmatismo da derrota, só devemos nos ocupar em aplaudir aquelas seleções que vierem a apresentar o melhor futebol.

E que vença a melhor!

Edson Pinto
02/07/2010

4 comentários:

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De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

“E agora, Dunga?/a festa acabou/a luz apagou/o povo sumiu/E agora Ricardo Teixeira?/E agora Felipe Melo?/Vocês que têm nomes/que zombam dos outros/Vocês que fazem versos/que amam, protestam?/E agora, Lula?”...

Carlos Drummond de Andrade certamente se aborreceria em ver que maculei o seu famoso poema ao encaixar nomes diferentes do seu original “José”. Foi a paixão do momento da derrota que me levou a essa heresia. Perdoe-me o filho ilustre de Itabira, lá de cima padecendo conosco a tristeza de uma amarga derrota na Copa do Mundo de futebol.

Terminado o jogo de ontem escrevi este texto CINCO MINUTOS DE TRISTEZA.

Brasil fora, agora torço para que vença o melhor. Verdade!

Edson Pinto

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De: Lourdes Magri
Para: Edson Pinto

Prezado Édson,

Tenho lido seus artigos, que carinhosamente chegam pelo meu e-mail.
"Cinco Minutos de Tristeza" são as palavras que eu gostaria de escrever, que o seu criador pensamento com lúcida análise e experiência nos apresenta. Adorei a citação de La Fontaine... e a conclusão "Melhor estarmos preparados para os resultados adversos, pois os favoráveis não nos dão nenhum trabalho nem dissabores".

Parabens! E obrigada pelas suas palavras.
Que vença o melhor.

Um abraço,
Lourdes

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De: Nelson
Para: Edson Pinto

Caro Edson

Parabéns pelas suas crônicas.
Desde que passei a receber seus BLOGS, tornei um fâ seu e um leitor assíduo.
Ainda a propósito da festa brasileira em torno da Copá do Mundo, ocorreu-me a seguinte idéia:
A Copa mostrou não só a paixão da unanimidade dos brasileiros pelo futebol, mas, principalmente, foi uma unânime e louvável demonstração de civilidade e capacidade de engajamento do povo brasileiro em torno de um objetivo comum através de uma manifestação simples, barata, fácil, pacífica e visível da capacidade de luta do povo pela sua Pátria.
Por outro lado, todos nós sabemos que, mais importante para a nossa Pátria e o nosso povo do que a conquista da Copa é a conquista da vitória do Brasil contra a impunidade em todos os níveis da sociedade, mas principalmente a começar por cima, isto é pelos nossos políticos, nossas instituições, nossos líderes públicos e privados.
Assim, porque não convidar nossa mídia, os formadores de opinião e os líderes que realmente desejem passar nosso país a limpo para liderar uma campanha de continuidade na manutenção das bandeiras asteadas nas casas e nos carros é prol da conquista desta nova Copa,
a da idoneidade e da decência.
Creio que esta campanha, se bem conduzida, poderia ser mantida por um longo período e ter um efeito bem mais efetivo do que quaisquer abaixo assinados.
Infelizmente, não tenho o dom para me extender na defesa desta tese, mas estou certo que, se você também achar válida esta sugestão, poderá escrever uma crônica sobre o tema capaz de atrair muitas pessoas e entidades para este objetivo.

Em abraço e, mais uma vez, meus parabéns pelo seu trabalho.

Nelson

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De: Marina Salna
Para: Edson Pinto

Edson,

Parabéns por este maravilhoso BLOG!!!
Concordo plenamente com você, em relação ao "ítem 2". Se o Brasil ganha esta copa, ah! iríamos ouvir nas campanhas políticas da próxima eleição que o Brasil está indo tão bem que até ganhou a copa do mundo neste atual mandato.
Parabéns mais uma vez! Genial!

Marina